sexta-feira, 17 de outubro de 2014

SÓ DUAS PROPOSTAS E ATAQUES SEM LIMITE





ZH 17 de outubro de 2014 | N° 17955


ELEIÇÕES 2014. CORRIDA AO PLANALTO


DEBATE ENTRE DILMA E AÉCIO foi marcado por ofensas. Em três blocos, petista e tucano trocaram acusações de nepotismoe de condescendência com a corrupção. Candidato chamou adversária de mentirosa, e ela condenou caso do bafômetro. No segundo debate do segundo turno entre os candidatos à Presidência da República, Aécio Neves (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) esqueceram de levar propostas para governar o país.

Em uma hora e 20 minutos de embate no SBT, o tucano e a petista conseguiram apresentar apenas uma proposição cada um, ambas sobre segurança pública: Dilma sugeriu integrar Forças Armadas, Polícia Federal e polícias estaduais como ocorreu na Copa do Mundo e, Aécio falou em criar uma política nacional para o setor com uma barreira ao contingenciamento de recursos para o setor.

O tucano disse que, se eleito, garantirá que os recursos para a área sejam “efetivamente gastos em parcerias com os Estados, transferidos mensalmente”. Dilma prometeu modificações na legislação:

– A Constituição atribuiu aos Estados a segurança interna do país. Quero mudar isso.

No restante do debate, os temas que dominaram foram corrupção e nepotismo. Em apenas dois momentos, os concorrentes falaram de inflação e obras.

O tucano abriu o primeiro bloco questionando Dilma sobre quem seria responsável “por tantos desvios na Petrobras”. Foi o início de uma troca de farpas que se arrastaria até os últimos minutos do debate. Aécio atacou Dilma pelo menos 22 vezes, com ofensas que foram de “incompetente” a “mentirosa”. A candidata à reeleição partiu para o ataque em 16 oportunidades, acusando o adversário de ser mal-informado e lembrando do episódio em que o ex-senador se recusou a fazer o teste do bafômetro, em 2011.

Diante dos ataques frequentes entre os dois candidatos, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu adotar nova postura em relação ao horário eleitoral. A Corte vai atuar para garantir que o programa seja usado para debater propostas e não para trazer acusações pessoais entre os adversários.



Susto no estúdio


Logo após o debate, que foi o mais acirrado da campanha, Dilma passou mal no meio de uma entrevista ao vivo. A presidente teve uma queda de pressão e, com o auxílio da repórter, precisou sentar. Depois de tomar um copo de água, a petista, que teria se alimentado mal, retomou a entrevista e afirmou que “o debate sempre exige muito”.

NEPOTISMO

Ao falar sobre concursos públicos, Dilma voltou a sugerir que Aécio empregava parentes no governo de Minas Gerais:

– Nunca nomeei parentes para o meu governo, gostaria de saber se o senhor nunca fez a mesma coisa.

Aécio afirmou que sua irmã, Andrea, assumiu o serviço de voluntariado sem remuneração e partiu para o ataque:

– A senhora conhece Igor Rousseff? Seu irmão foi nomeado pelo (então) prefeito Fernando Pimentel no dia 20 de setembro de 2003, e nunca apareceu para trabalhar.

Dilma rebateu afirmando que a irmã de Aécio era responsável pela distribuição das verbas de publicidade do governo e voltou a questionar investimentos em empresas da família do adversário:

– Quanto é que vocês colocaram nas três rádios e no jornal que vocês possuem?

Petrobras

As suspeitas de corrupção na Petrobras abriram o debate. Ao citar o caso mais recente, de irregularidades no Complexo Petroquímico do Rio (Comperj), Aécio listou outras acusações para afirmar que as denúncias “viraram rotina” e questionar Dilma.

A petista afirmou que as investigações só ocorreram porque, no seu governo, a Polícia Federal tem liberdade para agir e questionou investimentos que Aécio teria feito, quando governador de Minas Gerais, em rádios e jornais de sua família. A candidata ainda listou denúncias de corrupção em governos do PSDB, como o caso do metrô de São Paulo:

– Onde estão os corruptos? Todos soltos – afirmou Dilma.

– Se as pessoas estão soltas é porque não foram condenadas, portanto as provas não existiram – devolveu Aécio, que em seguida listou membros do PT que foram condenados pelo mensalão.

TUCANO

No terceiro bloco, foi a vez de Dilma utilizar denúncias na Petrobras para atacar. A petista citou acusação do ex-diretor da estatal, Paulo Roberto Costa, de que o ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra (morto em março) recebeu propina para esvaziar uma CPI.

Aécio ironizou a pergunta, afirmando que, pela primeira vez, Dilma dava credibilidade às denúncias na Petrobras. Em seguida, rebateu perguntando porque a presidente não pediu o afastamento do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, também citado pelo ex-diretor. O senador questionou ainda o fato de o depoimento de Vaccari na CPI da Petrobras ter sido barrado pelo PT:

– Ele é o tesoureiro do seu partido e é responsável por transferir recursos para a sua campanha. Terá sido por isso que ele não foi afastado?

Dilma acusou Aécio de ter “dois pesos e duas medidas” sobre investigações de denúncias:

– Quando chega no ex-presidente do seu partido, o senhor sai e diz que tem de investigar o PT. Não, senhor. Temos de investigar todos, doa a quem doer.

INFLAÇÃO

As críticas à inflação foram uma das principais munições de Aécio contra o atual governo. O tucano questionou como Dilma pretende controlar a alta dos preços e voltou a citar uma frase do secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, de que a população deveria parar de comer carne e consumir ovos.

Dilma disse que a inflação está sob controle e alegou que o país foi impactado por dois “choques de oferta”, provocados pela seca, que seriam passageiros: os aumentos no custo da energia e nos preço dos alimentos. Aécio classificou o governo como “leniente”:

– Tivemos 418 mil empregos a menos neste ano do que no ano passado no mesmo período.

– Vocês entregaram o país com 11,4 milhões de desempregados, o segundo maior número, só ganhávamos da Índia – disse Dilma.

A petista afirmou que, caso a inflação ficasse nos 3% indicados pelo adversário, a taxa de desemprego chegaria a 15%, longe dos 5% de hoje.

violência

Um dos poucos momentos em que o tom arrefeceu foi na discussão sobre violência. Aécio citou documento da Unicef, segundo o qual 24 adolescentes morrem por dia no Brasil. O tucano questionou a efetividade do programa Crack, É Possível Vencer, que teria alcançado 40% das metas. Dilma afirmou que o seu governo foi o único a fazer “política nacional de combate a violência contra os jovens”.

– Então fracassou, candidata – rebateu Aécio.

O tucano criticou a baixa execução dos orçamentos do Fundo Nacional de Segurança (40%) e do Fundo Penitenciário (20%), no que classificou de “contingenciamento dos recursos da segurança”.

– O senhor está mal-informado, candidato – respondeu Dilma.

A petista afirmou que o governo federal gastou R$ 17,7 bilhões em segurança nos últimos quatro anos e promoveu operações conjuntas entre as polícias e Forças Armadas.

mobilidade

Dilma e Aécio também debateram obras de mobilidade urbana, com ênfase em divergências sobre a construção de metrôs pelo país. Aécio questionou a inexistência do obras prometidas pela adversária, como os metrôs em Porto Alegre e Belo Horizonte:

– A senhora tem um conjunto de boas intenções que a ineficiência do governo lamentavelmente não permitiu ainda que saíssem do papel.

Dilma argumentou que as obras estão em andamento, mas dependem de parcerias com prefeituras e a iniciativa privada.

– Estamos fazendo, candidato, nove metrôs no Brasil. É a primeira vez que se faz isso – devolveu a petista, que voltou a acusar o adversário de tentar se apropriar da origem do Bolsa Família.

Aécio insistiu no questionamento a efetividade do atual governo, afirmando que “das 200 obras de mobilidade anunciadas, apenas 28 foram entregues”. O tucano também acusou o PT de “demonizar” as parcerias público-privadas (PPPs) e permitir sobrepreço em obras.

Dilma afirmou que os projetos não estavam parados e que o adversário deveria “se informar melhor” sobre as obras.

lei seca

Dilma aproveitou uma de suas perguntas para lembrar o episódio, ocorrido em 2011, em que Aécio teve sua carteira de habilitação apreendida por estar com o documento vencido e por se recusar a fazer o teste do bafômetro, durante blitz da Lei Seca no Rio.

– Eu, candidato, não dirijo sob efeito de álcool e droga. (...) Agora, acredito que a Lei Seca trouxe um bem para o país, para os nossos jovens e para os nossos adolescentes – disse Dilma.

– Tampouco eu, candidata, mentir e insinuar ofensas como essa não é digno de qualquer cidadão, mas é indigno por uma presidente da República, candidata, a sua campanha é a campanha da mentira – rebateu Aécio, que afirmou já ter reconhecido o erro, cometido “inadvertidamente”.




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