ZH 20 de outubro de 2014 | N° 17958
PAULO BROSSARD
Desde os tempos de estudante até vestir a toga, participei da atividade política. Vi e senti duas ditaduras, uma guerra mundial, o restabelecimento da democracia e ainda agora o espetáculo das eleições. Ou porque os partidos extintos e refeitos ainda não preencheram sua real finalidade, ou por outra causa, personagens novos, sem voto ou responsabilidade partidária, ganharam importância na cena política, cuja contribuição não foi a desejável para aprimoramento do Estado democrático. Atuando no horário eleitoral, os denominados “marqueteiros”, hoje, ocupam o espaço dos antigos líderes partidários.
A propaganda política faz com que os candidatos compulsoriamente, pelo rádio ou pela TV, entrem nos lares das pessoas, para levar sua mensagem. Em tese isso seria benéfico, mas o mau uso está deturpando os bons propósitos.
Assim como Orwell profeticamente previra, uma nova língua tem surgido para mudar o sentido das palavras. Corrupção foi apelidada de “malfeito”. Eis que surge outra novidade, a “desconstrução”, consistente na repetição sistemática de falsidades contra determinado candidato, para reduzir sua aceitação junto ao eleitorado.
O candidato não usa o nobre espaço que lhe é dado para expor suas ideias ou difundir seus méritos, o tempo é usado para denegrir e injuriar o adversário, tudo feito com talento e arte dos tais propagandistas, que se envaidecem com o processo de “desconstrução”. O nome é original, mas a conduta é criminosa.
É um ultraje alguém entrar na sala de visitas de alguém, sem ser convidado, e lá estando postar-se a dizer inverdades e calúnias em relação a outrem. Nunca pensei que, passado tanto tempo, veríamos a democracia ser “desconstruída” de forma tão explícita e deprimente, nem que a política chegasse a esse ponto.
Mas há um dado que, com desconstrução ou sem ela, enche o plenário atual da nação. É a escolha do presidente da República. Entre os dois mais votados no primeiro turno, um deverá ser escolhido. Aécio Neves ou Dilma Rousseff, que pleiteia a reeleição (pois, por indicação do presidente Luiz Inácio, veio a ser eleita presidente do país). Ambos são definitivos e inalteráveis, salvo em caso de morte ou renúncia. Em tais termos, a este cenário assaz restrito, a escolha do presidente está enterreirada.
Ainda neste mês, no domingo, 26, os brasileiros darão o voto decisivo e irrevogável. Espero que o escolhido esteja à altura dos vastos encargos a enfrentar.
Jurista, ministro aposentado do STF
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