ZH 18 de outubro de 2014 | N° 17956
EDITORIAL
Os pretendentes ao Palácio do Planalto, os partidos, a política e o país perdem com a agressividade que caracterizou o mais recente confronto na TV.
É lamentável o saldo do mais recente debate entre os candidatos à Presidência. Os dois pretendentes ao mais alto cargo do país ofereceram aos eleitores – e também a adolescentes que ainda não votam – um péssimo exemplo de conduta pública. A impressão que ficou para o telespectador, após o confronto transmitido pelo SBT, na quinta-feira, é a de que nenhum dos dois tem idoneidade moral e equilíbrio emocional para comandar o país. Os candidatos se encarregam de ampliar a desqualificação do oponente, a começar pela lista de episódios que, de acordo com suas interpretações, definem o caráter de cada um. A constatação mais óbvia, oferecida pela presidente e por seu opositor, aponta para o despreparo ético de ambos. Para a população, não há medida capaz de indicar quem, afinal, seria mais conivente com a corrupção, com desmandos administrativos e com o nepotismo.
O eleitor merece uma campanha mais elevada, em respeito à sua capacidade de perceber que o destempero esconde a falta de seriedade na apresentação de propostas. Sabia-se, por antecipação, pelo clima bélico que caracteriza o segundo turno, que os debates seriam tensos. O confronto, no entanto, foi muito além da tensão e terminou por repetir, entre duas pessoas esclarecidas, boa parte do que é reproduzido nas redes sociais.
As acusações, mesmo que possam estar presentes nessas ocasiões, não podem ocupar todo o tempo de um encontro promovido para o esclarecimento de posições. Os programas, até agora com esboços precariamente formulados, ficam ofuscados por uma agressividade características de discussões estudantis.
Em vez de receber subsídios que possam resolver as grandes questões do país, o eleitor passa a testemunhar as tentativas de desmonte de reputações. Os candidatos se transformam em protagonistas do rebaixamento do debate e da política como expressão legítima da democracia. Assiste-se à perda de referências moralizadoras da atividade pública, num momento em que deveria ocorrer o contrário.
Os políticos e os partidos, no ambiente único de uma eleição presidencial, dedicam-se à desqualificação da própria atividade e oferecem mais razões aos que passam a desacreditar no atual modelo de representação e nas instituições. Para conter esse vale-tudo, quando ainda faltam uma semana para o pleito e pelo menos dois debates televisivos, seria oportuno que as lideranças partidárias mais sensatas propusessem um acordo de civilidade e de elevação do nível de um debate até agora deseducador.
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