JORNAL DO COMERCIO 18/08/2014
Lasier é a favor da unificação da alíquota do ICMS
Lívia Araújo
Profissional de mídia há cinco décadas, o pedetista Lasier Martins entrou para a política partidária no ano passado, quando deixou o grupo RBS para se filiar ao PDT, pelo qual se lançou, em sua primeira disputa eleitoral, candidato ao Senado. A forte presença midiática, a seu ver, representa mais um desafio do que uma vantagem na campanha. “Eu tenho andado muito pelo Estado, e o que mais tenho ouvido é ‘vamos ver se você vai lá para cima para ser igual aos outros’. Mas a exposição pode me dar uma pequena vantagem, se as pessoas que concordam com o que eu pregava no rádio e na televisão votarem em mim”, acredita.
Lasier conta que aceitou concorrer com a condição de que o PDT fosse à disputa com candidato próprio. “O PDT não pode servir de coadjuvante de outros partidos, ele tem que ser protagonista”, acredita. Sua principal plataforma de campanha é relativa às finanças do Estado. Lasier defende que a escassez de recursos poderá ser sanada com um novo pacto federativo que reveja a centralização de tributos estaduais na União. “Temos de reivindicar um melhor atendimento tributário, mas também fazer uma unificação da alíquota do ICMS”, avalia.
Integrando a chapa majoritária encabeçada por Vieira da Cunha (PDT) e Flávio Gomes (PSC), em coligação com DEM, PV e PEN, o candidato, nesta entrevista ao Jornal do Comércio, também comenta sobre os desdobramentos das jornadas de junho e critica as políticas de Estado de um de seus principais adversários ao Senado, o petista Olívio Dutra.
Jornal do Comércio – Como se deu sua aproximação com a política e o que o motivou a concorrer ao Senado?
Lasier Martins – Há 30 anos eu tenho sido convidado a entrar na política. O PP, o PSDB e o PMDB também me chamaram para concorrer ao Senado. Sempre protelei, mas, com o crescimento da degradação da política, aquilo começou a me soar como um desafio e eu achei que realmente estava na hora de fazer o que tanto me inquietava. Aceitei com a condição de que o PDT tivesse candidatura própria e, daqui por diante, tenha candidato em todas as eleições, empenhando-se para não mais viver a reboque de outros partidos. É um partido com a cara do gaúcho, e meu pai sempre foi um fervoroso trabalhista. Por esses fatores todos eu decidi colocar meu nome à disposição.
JC – Quais são os temas centrais da sua candidatura e prioridades para o Senado?
Lasier – Eu entendo que nada se fará pelo Rio Grande do Sul sem uma mudança orçamentária. O ponto de partida é mexer no pacto federativo. A Constituição diz que estados e municípios têm autonomia, mas não é possível isso acontecer sem recursos. Existe uma grande concentração de tributos na União e, cada vez mais, os estados perdem poder, têm mais compromissos, mas menos recursos. O Rio Grande do Sul é o 6º estado em arrecadação, mas é o 11º em retorno. São R$ 35 bilhões que mandamos para Brasília e em troca recebemos R$ 12 bilhões. A Bahia arrecada só R$ 15 bilhões e recebe de volta R$ 25 bilhões, quase o dobro. Há uma falta de equanimidade no tratamento. Temos de reivindicar um melhor atendimento tributário, mas também fazer uma unificação da alíquota do ICMS. A pedra de toque para o desenvolvimento é a questão financeira. Todo mundo fala que precisamos melhorar a educação, a segurança, a agricultura, a saúde, mas isso tudo é muito vazio se não tivermos mudanças com relação à distribuição dos tributos, entre eles, o Fundo de Participação dos Municípios. O governo central distribui conforme suas conveniências ou simpatias partidárias, e nossos municípios gaúchos têm recebido muito pouco. Então, é preciso mexer na questão tributária através do reestabelecimento do pacto federativo.
JC – O senhor critica fortemente a saída da Ford do Estado, no governo de Olívio Dutra. Mas a empresa acabou sendo condenada pela Justiça a indenizar o Estado...
Lasier – Esse caso não terminou ainda. Quando o governo (Antonio) Britto (PMDB) trouxe a Ford para o Rio Grande do Sul, a empresa adquiriu, através do governo e com grande participação financeira deste, os terrenos de Guaíba. E antecipou, na época, R$ 300 milhões, que hoje vão a muito mais de R$ 1 bilhão, que seriam usados na construção da infraestrutura. É desse dinheiro que o governo do PT foi atrás e ganhou, mas esta ação não terminou. Esse processo ainda pende de julgamento pelo pleno do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. A Ford, por uma questão de marketing, não quis entrar contra o governo do Rio Grande do Sul por quebra de contrato. A empresa gastou muito para fazer o projeto de instalação no Rio Grande do Sul, contratou consultorias, fez projeto de quais automóveis seriam montados aqui, e isso demandou gastos e contrato. Mas, quando o Olívio assumiu, declarou que não daria dinheiro para multinacional rica. Ele quebrou o contrato a tal ponto que, quando o presidente da Ford, Ivan Pereira, veio ao Rio Grande do Sul, o Olívio não o recebeu, deu-lhe um chá de banco e o mandou ser recebido pelo Zeca Moraes (então secretário estadual de Desenvolvimento e Assuntos Internacionais, PT). Sei disso porque, na época, eu estava na reportagem e acompanhei tudo, além de ter ido a Detroit (EUA), quando uma comitiva de empresários e deputados do governo Britto foi lá agradecer ao presidente mundial da Ford por ter escolhido o Rio Grande do Sul. Jack Nasser disse: “Vamos fazer em Guaíba a fábrica de automóveis mais moderna do mundo, porque o automóvel sempre existirá, a diferença é que serão mais sofisticados”. E confirmou, diante de nós, que viria à inauguração e transformaria Guaíba na cidade mais ajardinada do Rio Grande do Sul. Na semana seguinte, se soube que a Ford não vinha mais por quebra de contrato. Isso foi uma decisão altamente prejudicial à economia do Estado, porque ao não vir a Ford, também não vieram a Goodyear e outras empresas. Na Bahia, houve a criação de milhares de empregos, renda, tributos. Alguém poderá dizer que “o Lasier está aferrado a uma questão do passado”. Sim, a questão é do passado, mas as consequências estamos vivendo hoje.
JC – O público vê uma polarização entre o senhor e Olívio Dutra, muito por conta de sua postura em relação à Ford.
Lasier – Temos divergências muito profundas em questão de desenvolvimento econômico. O Olívio recebeu um governo e o entregou pior ao seu sucessor. Reconheço que ele é uma pessoa honesta, um homem íntegro, mas tem decisões muito desastradas. Ele está muito aferrado a uma política estatizante, à agricultura familiar, que é importante, principalmente, para nós gaúchos, mas só isso não resolve. Temos que avançar e dar alguns passos adiante, em sintonia com o mundo moderno, e o Olívio não acompanha isso. Os grandes investimentos que perdemos são uma triste herança que temos: o Rio Grande do Sul está desprezado, porque criou-se um preconceito de que o Estado não cumpre contratos.
JC – O PSB, que está apoiando José Ivo Sartori (PMDB), e o PDT, há menos de um ano, apoiavam o governo Tarso Genro (PT). O que explica essa mudança?
Lasier – O PDT entrou no governo Tarso contra a vontade do presidente estadual do partido, Romildo Bolzan, e do hoje candidato a governador Vieira da Cunha, além de vários candidatos a deputado federal, entre eles Pompeo de Mattos. Mas, como houve uma decisão de diretório estadual por pequena margem, os principais dirigentes perderam e aí alguns pedetistas entraram no governo. Mas quando obtivemos, junto ao presidente nacional do PDT (Carlos Lupi), a liberação para lançarmos candidatura própria, esses principais aderentes do governo Tarso se desligaram e aceitaram a posição de autonomia do PDT. Eu entendo o PDT como um partido muito grande. Não tem nada que servir de coadjuvante de outros partidos, tem que ser protagonista.
JC – O PDT apoia Dilma Rousseff (PT) em nível nacional. Qual a sua posição?
Lasier – Eu não apoio a Dilma, porque acho que ela não atendeu bem às carências do Rio Grande do Sul. Há quatro anos e meio eu a entrevistei, perguntando se faria a ponte do Guaíba e ela disse que sim, mas o governo dela está terminando e a ponte não tem licenciamento, nem projeto. Ela não cumpriu a promessa da ponte do Guaíba e agora promete o metrô, que é um sonho que temos, mas é irrealizável em curto e médio prazo. Ela também não cumpre o pacto federativo; pelo contrário, deixa os municípios gaúchos e estados como o Rio Grande do Sul à mingua.
JC – Como avalia a sequência dos protestos de 2013?
Lasier – Olha, foi uma das coisas mais emocionantes que vi. Aqueles acontecimentos também determinaram minha decisão de concorrer, pois percebi que a sociedade brasileira, as pessoas de bem estavam começando a reagir, saindo da letargia e protestando. É uma pena que, nos políticos brasileiros, aquilo entrou por um ouvido e saiu pelo outro. O povo brasileiro quer melhores serviços públicos, ética na política, o fim do esbanjamento do dinheiro público, do excesso de ministérios, dos 22 mil cargos de confiança (CCs), do aparelhamento do Estado por um partido único, nada disso a população quer.
JC – Há alguma maneira de a população participar das mudanças, além das eleições? O que acha dos conselhos propostos por Dilma?
Lasier – Esses conselhos populares do decreto da presidente são, antes de mais nada, inconstitucionais. Não resistem a uma avaliação do poder Judiciário. Mas acho que nós tivemos um início de reação. A população percebeu que somos um País rico, temos muitos recursos, solo fértil; temos biodiversidade para produtos farmacêuticos e médicos que nenhum outro país tem, recursos minerais, temos o pré-sal e, no entanto, apesar de sermos a sétima economia do mundo, estamos no 80º lugar no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), um absurdo. A população se deu conta que é mal administrada, então, está na hora de reagir. Espero que essa reação se converta em votos, em gente nova na política.
JC – Acha que, de alguma forma, a população deve participar de políticas de governo?
Lasier – Acho que pode, por meio das leis populares, mas nós não podemos perder o sistema representativo. Ainda é o Congresso Nacional e os Parlamentos estaduais que devem responder, embora não estejam respondendo. Isso pode demorar um pouco, mas nós temos que começar a combater essas más políticas, através dessa representatividade parlamentar.
JC – Com relação à crise da política representativa, uma das questões discutidas é o fim do financiamento privado de campanhas. O que pensa?
Lasier – Nós precisamos de uma reforma política. A ideia de que não existe almoço grátis obriga os eleitos e beneficiários destas vultosas contribuições a retribuir as doações. Temos de encontrar um meio termo em relação à captação de recursos junto à iniciativa privada. Do jeito que está não dá. Mas o financiamento público também é injusto, pois não temos recursos para as carências essenciais da vida brasileira. Além do mais, o que impedirá que clandestinamente haja contribuições para os candidatos que estiverem mais afeiçoados na defesa dos grandes interesses privados?
JC – Como se poderia encontrar esse meio termo?
Lasier – Acho que tem que diminuir o tamanho das ofertas, estabelecer um limite. Nenhum candidato pode receber mais do que um valor “x”, reunidos todos os doadores. É inadmissível, como estamos vendo agora, a presidente Dilma recebendo bilhões, é a que mais está recebendo. Aqui no Estado, o candidato à reeleição é o que mais recebe. Os partidos pequenos não recebem praticamente nada, então, se for estabelecido um teto, iguala um pouco mais.
JC – Isso garante que não vai haver retribuição?
Lasier – Acho que não, porque estabelecendo limites o candidato vai perceber que ele não tem grande obrigação, porque se o empresário doar R$ 300 mil no máximo, isso não vai significar obrigação. Para fins de uma eleição, isso é pouco significativo. Da mesma maneira que também não concordo com a lista fechada, que é voltar ao voto de cabresto, pois as cúpulas decidem quais candidatos devem ser colocados na ponta da lista.
JC – O que acha da regulação da mídia?
Lasier – Há por trás disso a ideia de limitar a liberdade de imprensa. Acho um atraso. Sobre alguns órgãos serem mais poderosos do que outros, é porque são mais competentes. Vivemos em uma economia de mercado, então, há alguns veículos que pagam melhores salários, espalham mais sucursais e emissoras. Isso é competência.
Lasier conta que aceitou concorrer com a condição de que o PDT fosse à disputa com candidato próprio. “O PDT não pode servir de coadjuvante de outros partidos, ele tem que ser protagonista”, acredita. Sua principal plataforma de campanha é relativa às finanças do Estado. Lasier defende que a escassez de recursos poderá ser sanada com um novo pacto federativo que reveja a centralização de tributos estaduais na União. “Temos de reivindicar um melhor atendimento tributário, mas também fazer uma unificação da alíquota do ICMS”, avalia.
Integrando a chapa majoritária encabeçada por Vieira da Cunha (PDT) e Flávio Gomes (PSC), em coligação com DEM, PV e PEN, o candidato, nesta entrevista ao Jornal do Comércio, também comenta sobre os desdobramentos das jornadas de junho e critica as políticas de Estado de um de seus principais adversários ao Senado, o petista Olívio Dutra.
Jornal do Comércio – Como se deu sua aproximação com a política e o que o motivou a concorrer ao Senado?
Lasier Martins – Há 30 anos eu tenho sido convidado a entrar na política. O PP, o PSDB e o PMDB também me chamaram para concorrer ao Senado. Sempre protelei, mas, com o crescimento da degradação da política, aquilo começou a me soar como um desafio e eu achei que realmente estava na hora de fazer o que tanto me inquietava. Aceitei com a condição de que o PDT tivesse candidatura própria e, daqui por diante, tenha candidato em todas as eleições, empenhando-se para não mais viver a reboque de outros partidos. É um partido com a cara do gaúcho, e meu pai sempre foi um fervoroso trabalhista. Por esses fatores todos eu decidi colocar meu nome à disposição.
JC – Quais são os temas centrais da sua candidatura e prioridades para o Senado?
Lasier – Eu entendo que nada se fará pelo Rio Grande do Sul sem uma mudança orçamentária. O ponto de partida é mexer no pacto federativo. A Constituição diz que estados e municípios têm autonomia, mas não é possível isso acontecer sem recursos. Existe uma grande concentração de tributos na União e, cada vez mais, os estados perdem poder, têm mais compromissos, mas menos recursos. O Rio Grande do Sul é o 6º estado em arrecadação, mas é o 11º em retorno. São R$ 35 bilhões que mandamos para Brasília e em troca recebemos R$ 12 bilhões. A Bahia arrecada só R$ 15 bilhões e recebe de volta R$ 25 bilhões, quase o dobro. Há uma falta de equanimidade no tratamento. Temos de reivindicar um melhor atendimento tributário, mas também fazer uma unificação da alíquota do ICMS. A pedra de toque para o desenvolvimento é a questão financeira. Todo mundo fala que precisamos melhorar a educação, a segurança, a agricultura, a saúde, mas isso tudo é muito vazio se não tivermos mudanças com relação à distribuição dos tributos, entre eles, o Fundo de Participação dos Municípios. O governo central distribui conforme suas conveniências ou simpatias partidárias, e nossos municípios gaúchos têm recebido muito pouco. Então, é preciso mexer na questão tributária através do reestabelecimento do pacto federativo.
JC – O senhor critica fortemente a saída da Ford do Estado, no governo de Olívio Dutra. Mas a empresa acabou sendo condenada pela Justiça a indenizar o Estado...
Lasier – Esse caso não terminou ainda. Quando o governo (Antonio) Britto (PMDB) trouxe a Ford para o Rio Grande do Sul, a empresa adquiriu, através do governo e com grande participação financeira deste, os terrenos de Guaíba. E antecipou, na época, R$ 300 milhões, que hoje vão a muito mais de R$ 1 bilhão, que seriam usados na construção da infraestrutura. É desse dinheiro que o governo do PT foi atrás e ganhou, mas esta ação não terminou. Esse processo ainda pende de julgamento pelo pleno do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. A Ford, por uma questão de marketing, não quis entrar contra o governo do Rio Grande do Sul por quebra de contrato. A empresa gastou muito para fazer o projeto de instalação no Rio Grande do Sul, contratou consultorias, fez projeto de quais automóveis seriam montados aqui, e isso demandou gastos e contrato. Mas, quando o Olívio assumiu, declarou que não daria dinheiro para multinacional rica. Ele quebrou o contrato a tal ponto que, quando o presidente da Ford, Ivan Pereira, veio ao Rio Grande do Sul, o Olívio não o recebeu, deu-lhe um chá de banco e o mandou ser recebido pelo Zeca Moraes (então secretário estadual de Desenvolvimento e Assuntos Internacionais, PT). Sei disso porque, na época, eu estava na reportagem e acompanhei tudo, além de ter ido a Detroit (EUA), quando uma comitiva de empresários e deputados do governo Britto foi lá agradecer ao presidente mundial da Ford por ter escolhido o Rio Grande do Sul. Jack Nasser disse: “Vamos fazer em Guaíba a fábrica de automóveis mais moderna do mundo, porque o automóvel sempre existirá, a diferença é que serão mais sofisticados”. E confirmou, diante de nós, que viria à inauguração e transformaria Guaíba na cidade mais ajardinada do Rio Grande do Sul. Na semana seguinte, se soube que a Ford não vinha mais por quebra de contrato. Isso foi uma decisão altamente prejudicial à economia do Estado, porque ao não vir a Ford, também não vieram a Goodyear e outras empresas. Na Bahia, houve a criação de milhares de empregos, renda, tributos. Alguém poderá dizer que “o Lasier está aferrado a uma questão do passado”. Sim, a questão é do passado, mas as consequências estamos vivendo hoje.
JC – O público vê uma polarização entre o senhor e Olívio Dutra, muito por conta de sua postura em relação à Ford.
Lasier – Temos divergências muito profundas em questão de desenvolvimento econômico. O Olívio recebeu um governo e o entregou pior ao seu sucessor. Reconheço que ele é uma pessoa honesta, um homem íntegro, mas tem decisões muito desastradas. Ele está muito aferrado a uma política estatizante, à agricultura familiar, que é importante, principalmente, para nós gaúchos, mas só isso não resolve. Temos que avançar e dar alguns passos adiante, em sintonia com o mundo moderno, e o Olívio não acompanha isso. Os grandes investimentos que perdemos são uma triste herança que temos: o Rio Grande do Sul está desprezado, porque criou-se um preconceito de que o Estado não cumpre contratos.
JC – O PSB, que está apoiando José Ivo Sartori (PMDB), e o PDT, há menos de um ano, apoiavam o governo Tarso Genro (PT). O que explica essa mudança?
Lasier – O PDT entrou no governo Tarso contra a vontade do presidente estadual do partido, Romildo Bolzan, e do hoje candidato a governador Vieira da Cunha, além de vários candidatos a deputado federal, entre eles Pompeo de Mattos. Mas, como houve uma decisão de diretório estadual por pequena margem, os principais dirigentes perderam e aí alguns pedetistas entraram no governo. Mas quando obtivemos, junto ao presidente nacional do PDT (Carlos Lupi), a liberação para lançarmos candidatura própria, esses principais aderentes do governo Tarso se desligaram e aceitaram a posição de autonomia do PDT. Eu entendo o PDT como um partido muito grande. Não tem nada que servir de coadjuvante de outros partidos, tem que ser protagonista.
JC – O PDT apoia Dilma Rousseff (PT) em nível nacional. Qual a sua posição?
Lasier – Eu não apoio a Dilma, porque acho que ela não atendeu bem às carências do Rio Grande do Sul. Há quatro anos e meio eu a entrevistei, perguntando se faria a ponte do Guaíba e ela disse que sim, mas o governo dela está terminando e a ponte não tem licenciamento, nem projeto. Ela não cumpriu a promessa da ponte do Guaíba e agora promete o metrô, que é um sonho que temos, mas é irrealizável em curto e médio prazo. Ela também não cumpre o pacto federativo; pelo contrário, deixa os municípios gaúchos e estados como o Rio Grande do Sul à mingua.
JC – Como avalia a sequência dos protestos de 2013?
Lasier – Olha, foi uma das coisas mais emocionantes que vi. Aqueles acontecimentos também determinaram minha decisão de concorrer, pois percebi que a sociedade brasileira, as pessoas de bem estavam começando a reagir, saindo da letargia e protestando. É uma pena que, nos políticos brasileiros, aquilo entrou por um ouvido e saiu pelo outro. O povo brasileiro quer melhores serviços públicos, ética na política, o fim do esbanjamento do dinheiro público, do excesso de ministérios, dos 22 mil cargos de confiança (CCs), do aparelhamento do Estado por um partido único, nada disso a população quer.
JC – Há alguma maneira de a população participar das mudanças, além das eleições? O que acha dos conselhos propostos por Dilma?
Lasier – Esses conselhos populares do decreto da presidente são, antes de mais nada, inconstitucionais. Não resistem a uma avaliação do poder Judiciário. Mas acho que nós tivemos um início de reação. A população percebeu que somos um País rico, temos muitos recursos, solo fértil; temos biodiversidade para produtos farmacêuticos e médicos que nenhum outro país tem, recursos minerais, temos o pré-sal e, no entanto, apesar de sermos a sétima economia do mundo, estamos no 80º lugar no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), um absurdo. A população se deu conta que é mal administrada, então, está na hora de reagir. Espero que essa reação se converta em votos, em gente nova na política.
JC – Acha que, de alguma forma, a população deve participar de políticas de governo?
Lasier – Acho que pode, por meio das leis populares, mas nós não podemos perder o sistema representativo. Ainda é o Congresso Nacional e os Parlamentos estaduais que devem responder, embora não estejam respondendo. Isso pode demorar um pouco, mas nós temos que começar a combater essas más políticas, através dessa representatividade parlamentar.
JC – Com relação à crise da política representativa, uma das questões discutidas é o fim do financiamento privado de campanhas. O que pensa?
Lasier – Nós precisamos de uma reforma política. A ideia de que não existe almoço grátis obriga os eleitos e beneficiários destas vultosas contribuições a retribuir as doações. Temos de encontrar um meio termo em relação à captação de recursos junto à iniciativa privada. Do jeito que está não dá. Mas o financiamento público também é injusto, pois não temos recursos para as carências essenciais da vida brasileira. Além do mais, o que impedirá que clandestinamente haja contribuições para os candidatos que estiverem mais afeiçoados na defesa dos grandes interesses privados?
JC – Como se poderia encontrar esse meio termo?
Lasier – Acho que tem que diminuir o tamanho das ofertas, estabelecer um limite. Nenhum candidato pode receber mais do que um valor “x”, reunidos todos os doadores. É inadmissível, como estamos vendo agora, a presidente Dilma recebendo bilhões, é a que mais está recebendo. Aqui no Estado, o candidato à reeleição é o que mais recebe. Os partidos pequenos não recebem praticamente nada, então, se for estabelecido um teto, iguala um pouco mais.
JC – Isso garante que não vai haver retribuição?
Lasier – Acho que não, porque estabelecendo limites o candidato vai perceber que ele não tem grande obrigação, porque se o empresário doar R$ 300 mil no máximo, isso não vai significar obrigação. Para fins de uma eleição, isso é pouco significativo. Da mesma maneira que também não concordo com a lista fechada, que é voltar ao voto de cabresto, pois as cúpulas decidem quais candidatos devem ser colocados na ponta da lista.
JC – O que acha da regulação da mídia?
Lasier – Há por trás disso a ideia de limitar a liberdade de imprensa. Acho um atraso. Sobre alguns órgãos serem mais poderosos do que outros, é porque são mais competentes. Vivemos em uma economia de mercado, então, há alguns veículos que pagam melhores salários, espalham mais sucursais e emissoras. Isso é competência.
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