sexta-feira, 22 de agosto de 2014

JULIO FLORES DEFENDE UMA ALTERNATIVA DE ESQUERDA PARA O BRASIL

Jornal do Comércio 20/08/2014

Para Julio Flores, Brasil precisa de uma alternativa de esquerda


Eduardo Amaral

GILMAR LUÍS/JC
Julio Flores defende que o Brasil precisa de uma alternativa de esquerda
Julio Flores defende que o Brasil precisa de uma alternativa de esquerda
Candidato ao Senado pelo Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), Julio Flores defende que o Brasil precisa de uma alternativa de esquerda. Forte crítico dos governos dos petistas Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff e da gestão do tucano Fernando Henrique Cardoso, o político mantém, após mais de 30 anos de militância, o discurso do começo da vida política, em 1979.

Em 2014, vai para sua décima eleição, tendo concorrido a diversos cargos sem ter sido eleito. Em 2004, quando concorreu a vereador de Porto Alegre, chegou a receber mais votos que concorrentes eleitos, porém, em razão da cláusula de barreira, não assumiu.

Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, Julio Flores critica a polarização existente entre representantes da direita e o PT, que se coloca, segundo ele, como sendo de esquerda. Para o candidato, os dois partidos representam o mesmo projeto.

Jornal do Comércio - O que as candidaturas do PSTU trazem de diferente para o cenário eleitoral?

Julio Flores –
 Nós achamos que a nossa Frente de Esquerda (coligação entre PSTU e P-Sol no Estado), o PSTU em particular, é o que faz a diferença. Porque todos os demais partidos de uma maneira ou de outra já governaram o Estado e o País, e governaram pros ricos sempre. E a nossa proposta é justamente que a gente tenha um governo a nível nacional, um governo dos trabalhadores, que rompa com a lógica de dominação sobre o povo, que tem sido os governos tanto PSDB, com Fernando Henrique, como de Lula e Dilma. São governos que efetivamente têm governado para os ricos, o próprio Lula não cansa de alardear que nunca os banqueiros e os empresários ganharam tanto quanto sob os governos do PT. Todo aquele propósito inicial de um governo dos trabalhadores, de governar para o povo, tem sido objetivamente desmentido por parte do próprio PT. Faz 12 anos que eles estão governando o país e o que a gente observa é que eles tem governado pros ricos. A diferença é que nós, do PSTU, agora em aliança com o P-Sol, aqui no Rio Grande do Sul, temos o propósito de fazer esse debate. O debate de que é necessário romper com essas amarras e estabelecidas pelo capital internacional e fazer mudanças profundas, porque é a única maneira de resolver o problema da miséria, da fome, do analfabetismo, da opressão às mulheres, aos negros, aos homossexuais.

JC - A disputa para o Senado, até o momento, está polarizada entre Olívio Dutra (PT) e Lasier Martins (PDT). Como o PSTU entra nesse embate?

Julio Flores –
 Do mesmo modo que tem essa falsa polarização entre Ana Amélia (PP) e Tarso (PT), tem também no senado uma outra polarização. E veja você que a RBS tem importância nas duas disputas, Ana Amélia foi funcionária da RBS durante anos e o Lasier Martins (PDT) também. A RBS está nesse disputa e o PT está nessa disputa. Então há uma disputa que do meu ponto de vista é uma falsa polarização, porque uns entendem que o PT é esquerda e a RBS, com a Ana Amélia e o Lasier Martins são a direita. E de fato isso não existe, eles têm o mesmo programa.

JC - Há quatro anos, se elegeram os senadores Ana Amélia (PP) e Paulo Paim (PT). O P-Sol, que está coligado com o PSTU, concorria, mas, em dado momento da campanha, para diminuir a ameaça da candidatura de Germano Rigotto (PMDB) a Paim, que tentava a reeleição, o P-Sol optou por se retirar e apoiar o petista. Isso pode acontecer agora?

Julio Flores –
 Eu acho que, em primeiro lugar, a decisão do P-Sol foi errada na época. Eles tomaram uma decisão de apoiar o Paim. Mas o Paim, apesar de parecer ser um sujeito que defende a aposentadoria, os aposentados, de fato, ele reforça todo esse governo que o PT tem desenvolvido nos anos todos. Então, foi errada a decisão, tanto é que não só nós entendemos isso como vários companheiros da frente que apoiavam o Olívio, apoiavam o PT, votaram na nossa companheira Vera Guasso significativamente naquela ocasião. Dentro do P-Sol, inclusive, e dentro da própria Frente Popular, vários companheiros se posicionaram favoravelmente a nossa candidatura ao Senado. Hoje, não creio que seja igual, mas é parecido, e essa coisa do voto útil. E isso interessa ao próprio PT e à Frente Popular, polarizar com a direita para que o PT possa se favorecer. O projeto de todos eles é resolver o problema dentro do regime atual, passar por dentro do processo de dominação do capital sobre o trabalho a partir das instâncias superiores, a Câmara Federal, o Senado, a presidência da República, o governo do Estado. Então eles não propõem nenhuma mudança substancial.

JC - Como está a relação com o P-Sol?

Julio Flores –
 Felizmente, nós conseguimos aqui com o (candidato a governador Roberto) Robaina (P-Sol) e comigo, ao Senado, uma coligação completa, estabelecer um programa mínimo de oposição ao governo, porque nós não queremos nem que a direita volte e nem que a Frente Popular siga. Nós queremos ser a terceira, a opção nesses dois campos de polarização que eles estão colocando com Ana Amélia e Tarso, Lasier (Martins, PDT) e Olívio. A verdadeira esquerda, tanto que meu lema para o Senado é: “Esquerda de verdade”.

JC – Não é a sua primeira eleição, não teme, em algum momento, se tornar um personagem folclórico?

Julio Flores –
 Não, pelo contrário, essa firmeza de ideias que o PSTU tem é uma virtude nossa. O que pode virar folclore é o fato de as pessoas verificarem que o Lula não é mais de esquerda, isso é uma piada. Porque quando o sujeito governou o País, foi eleito, fez alianças com Deus e Diabo. Aí eu pergunto, foi para isso que a gente elegeu o Lula? Não foi. Foi para mudar a vida das pessoas, acabar com a miséria, acabar com a exploração, com a acumulação de capital e a concentração de terras. Então,isso vai virar folclore, porque a origem do PT foi justamente o contrário. Hoje, ele está dizendo que o burguês não tem do que se queixar. Isso é ridículo, isso engendra folclore. Isso é uma piada. O PSTU só está resgatando aquilo que foi o propósito do inicial do PT e da CUT. O nosso propósito é fazer uma revolução social, é mudar a estrutura social do País.

JC – A crítica ao PT não pode se repetir em relação ao PSTU quando este chegar ao poder?

Julio Flores –
 Não há nenhuma garantia, a única garantia que existe é, primeiro, as nossas convicções. Mas também a nossa história, para teres uma ideia, nós rompemos com o PT em 1992, nós éramos favoráveis a levar às ruas a campanha pelo Fora (Fernando) Collor, e o José Dirceu (PT) foi o cara que operou toda a expulsão da Convergência Socialista (antiga corrente do PT que deu origem ao PSTU) que na época defendia o Fora Collor, e eles eram contra. Não há vacina para isso, a única vacina é a convicção e a relação objetiva que a gente estabelece com todas as organizações. Por exemplo, o principal mecanismo de cooptação existente hoje são os salários dos deputados, senadores e vereadores. E para nós o salário de um deputado nosso, como a nossa companheira Amanda (Grurgel, vereadora em Natal) e do Cleber (Rabeleo, vereador em Belém) são vereadores nossos, mas eles não ganham mais do que ganhavam antes de serem eleitos. Eles ganham o salário de origem. Em contrapartida, mesmo que o deputado ganhe R$ 20 R$ 30 mil, o resto vai para o fundo do partido para apoiar as lutas dos trabalhadores. Então, o mandato não é um privilégio.

JC – Como explicar para a população essa destinação de parte do salário para um fundo partidário?

Julio Flores –
 Eu acho que é simples, não tem muito drama nisso. Ao invés de o salário enriquecer o parlamentar, vai para o fundo para ajudar a luta dos trabalhadores. Então, isso tem simplicidade, não tem muito o que questionar, porque esse é o nosso propósito. Se tem uma greve, tem uma ocupação, tem uma luta, o PSTU não vai titubear no que vai fazer com esse dinheiro. Isso não vai para enriquecer as pessoas, o partido, ela vai estar em serviço da construção do próprio partido, mas principalmente no fortalecimento da luta do povo.

Perfil

Professor de matemática, Julio Flores tem 55 anos, nasceu em São Borja e iniciou a militância no movimento estudantil em 1979. Militante do PSTU desde a sua fundação, também participou da fundação do PT, partido do qual foi expulso em 1992. Nas eleições estaduais, concorreu a governador em 2002 e 2010. Em 2014, concorrerá ao Senado pela segunda vez. Em 1998, fez pouco mais de 24 mil votos, quando estreou na disputa pela vaga ao Senado.

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