Jornal do Comércio 20/08/2014
Para Julio Flores, Brasil precisa de uma alternativa de esquerda
Eduardo Amaral
Candidato ao Senado pelo Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), Julio Flores defende que o Brasil precisa de uma alternativa de esquerda. Forte crítico dos governos dos petistas Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff e da gestão do tucano Fernando Henrique Cardoso, o político mantém, após mais de 30 anos de militância, o discurso do começo da vida política, em 1979.
Em 2014, vai para sua décima eleição, tendo concorrido a diversos cargos sem ter sido eleito. Em 2004, quando concorreu a vereador de Porto Alegre, chegou a receber mais votos que concorrentes eleitos, porém, em razão da cláusula de barreira, não assumiu.
Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, Julio Flores critica a polarização existente entre representantes da direita e o PT, que se coloca, segundo ele, como sendo de esquerda. Para o candidato, os dois partidos representam o mesmo projeto.
Jornal do Comércio - O que as candidaturas do PSTU trazem de diferente para o cenário eleitoral?
Julio Flores – Nós achamos que a nossa Frente de Esquerda (coligação entre PSTU e P-Sol no Estado), o PSTU em particular, é o que faz a diferença. Porque todos os demais partidos de uma maneira ou de outra já governaram o Estado e o País, e governaram pros ricos sempre. E a nossa proposta é justamente que a gente tenha um governo a nível nacional, um governo dos trabalhadores, que rompa com a lógica de dominação sobre o povo, que tem sido os governos tanto PSDB, com Fernando Henrique, como de Lula e Dilma. São governos que efetivamente têm governado para os ricos, o próprio Lula não cansa de alardear que nunca os banqueiros e os empresários ganharam tanto quanto sob os governos do PT. Todo aquele propósito inicial de um governo dos trabalhadores, de governar para o povo, tem sido objetivamente desmentido por parte do próprio PT. Faz 12 anos que eles estão governando o país e o que a gente observa é que eles tem governado pros ricos. A diferença é que nós, do PSTU, agora em aliança com o P-Sol, aqui no Rio Grande do Sul, temos o propósito de fazer esse debate. O debate de que é necessário romper com essas amarras e estabelecidas pelo capital internacional e fazer mudanças profundas, porque é a única maneira de resolver o problema da miséria, da fome, do analfabetismo, da opressão às mulheres, aos negros, aos homossexuais.
JC - A disputa para o Senado, até o momento, está polarizada entre Olívio Dutra (PT) e Lasier Martins (PDT). Como o PSTU entra nesse embate?
Julio Flores – Do mesmo modo que tem essa falsa polarização entre Ana Amélia (PP) e Tarso (PT), tem também no senado uma outra polarização. E veja você que a RBS tem importância nas duas disputas, Ana Amélia foi funcionária da RBS durante anos e o Lasier Martins (PDT) também. A RBS está nesse disputa e o PT está nessa disputa. Então há uma disputa que do meu ponto de vista é uma falsa polarização, porque uns entendem que o PT é esquerda e a RBS, com a Ana Amélia e o Lasier Martins são a direita. E de fato isso não existe, eles têm o mesmo programa.
JC - Há quatro anos, se elegeram os senadores Ana Amélia (PP) e Paulo Paim (PT). O P-Sol, que está coligado com o PSTU, concorria, mas, em dado momento da campanha, para diminuir a ameaça da candidatura de Germano Rigotto (PMDB) a Paim, que tentava a reeleição, o P-Sol optou por se retirar e apoiar o petista. Isso pode acontecer agora?
Julio Flores – Eu acho que, em primeiro lugar, a decisão do P-Sol foi errada na época. Eles tomaram uma decisão de apoiar o Paim. Mas o Paim, apesar de parecer ser um sujeito que defende a aposentadoria, os aposentados, de fato, ele reforça todo esse governo que o PT tem desenvolvido nos anos todos. Então, foi errada a decisão, tanto é que não só nós entendemos isso como vários companheiros da frente que apoiavam o Olívio, apoiavam o PT, votaram na nossa companheira Vera Guasso significativamente naquela ocasião. Dentro do P-Sol, inclusive, e dentro da própria Frente Popular, vários companheiros se posicionaram favoravelmente a nossa candidatura ao Senado. Hoje, não creio que seja igual, mas é parecido, e essa coisa do voto útil. E isso interessa ao próprio PT e à Frente Popular, polarizar com a direita para que o PT possa se favorecer. O projeto de todos eles é resolver o problema dentro do regime atual, passar por dentro do processo de dominação do capital sobre o trabalho a partir das instâncias superiores, a Câmara Federal, o Senado, a presidência da República, o governo do Estado. Então eles não propõem nenhuma mudança substancial.
JC - Como está a relação com o P-Sol?
Julio Flores – Felizmente, nós conseguimos aqui com o (candidato a governador Roberto) Robaina (P-Sol) e comigo, ao Senado, uma coligação completa, estabelecer um programa mínimo de oposição ao governo, porque nós não queremos nem que a direita volte e nem que a Frente Popular siga. Nós queremos ser a terceira, a opção nesses dois campos de polarização que eles estão colocando com Ana Amélia e Tarso, Lasier (Martins, PDT) e Olívio. A verdadeira esquerda, tanto que meu lema para o Senado é: “Esquerda de verdade”.
JC – Não é a sua primeira eleição, não teme, em algum momento, se tornar um personagem folclórico?
Julio Flores – Não, pelo contrário, essa firmeza de ideias que o PSTU tem é uma virtude nossa. O que pode virar folclore é o fato de as pessoas verificarem que o Lula não é mais de esquerda, isso é uma piada. Porque quando o sujeito governou o País, foi eleito, fez alianças com Deus e Diabo. Aí eu pergunto, foi para isso que a gente elegeu o Lula? Não foi. Foi para mudar a vida das pessoas, acabar com a miséria, acabar com a exploração, com a acumulação de capital e a concentração de terras. Então,isso vai virar folclore, porque a origem do PT foi justamente o contrário. Hoje, ele está dizendo que o burguês não tem do que se queixar. Isso é ridículo, isso engendra folclore. Isso é uma piada. O PSTU só está resgatando aquilo que foi o propósito do inicial do PT e da CUT. O nosso propósito é fazer uma revolução social, é mudar a estrutura social do País.
JC – A crítica ao PT não pode se repetir em relação ao PSTU quando este chegar ao poder?
Julio Flores – Não há nenhuma garantia, a única garantia que existe é, primeiro, as nossas convicções. Mas também a nossa história, para teres uma ideia, nós rompemos com o PT em 1992, nós éramos favoráveis a levar às ruas a campanha pelo Fora (Fernando) Collor, e o José Dirceu (PT) foi o cara que operou toda a expulsão da Convergência Socialista (antiga corrente do PT que deu origem ao PSTU) que na época defendia o Fora Collor, e eles eram contra. Não há vacina para isso, a única vacina é a convicção e a relação objetiva que a gente estabelece com todas as organizações. Por exemplo, o principal mecanismo de cooptação existente hoje são os salários dos deputados, senadores e vereadores. E para nós o salário de um deputado nosso, como a nossa companheira Amanda (Grurgel, vereadora em Natal) e do Cleber (Rabeleo, vereador em Belém) são vereadores nossos, mas eles não ganham mais do que ganhavam antes de serem eleitos. Eles ganham o salário de origem. Em contrapartida, mesmo que o deputado ganhe R$ 20 R$ 30 mil, o resto vai para o fundo do partido para apoiar as lutas dos trabalhadores. Então, o mandato não é um privilégio.
JC – Como explicar para a população essa destinação de parte do salário para um fundo partidário?
Julio Flores – Eu acho que é simples, não tem muito drama nisso. Ao invés de o salário enriquecer o parlamentar, vai para o fundo para ajudar a luta dos trabalhadores. Então, isso tem simplicidade, não tem muito o que questionar, porque esse é o nosso propósito. Se tem uma greve, tem uma ocupação, tem uma luta, o PSTU não vai titubear no que vai fazer com esse dinheiro. Isso não vai para enriquecer as pessoas, o partido, ela vai estar em serviço da construção do próprio partido, mas principalmente no fortalecimento da luta do povo.
Em 2014, vai para sua décima eleição, tendo concorrido a diversos cargos sem ter sido eleito. Em 2004, quando concorreu a vereador de Porto Alegre, chegou a receber mais votos que concorrentes eleitos, porém, em razão da cláusula de barreira, não assumiu.
Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, Julio Flores critica a polarização existente entre representantes da direita e o PT, que se coloca, segundo ele, como sendo de esquerda. Para o candidato, os dois partidos representam o mesmo projeto.
Jornal do Comércio - O que as candidaturas do PSTU trazem de diferente para o cenário eleitoral?
Julio Flores – Nós achamos que a nossa Frente de Esquerda (coligação entre PSTU e P-Sol no Estado), o PSTU em particular, é o que faz a diferença. Porque todos os demais partidos de uma maneira ou de outra já governaram o Estado e o País, e governaram pros ricos sempre. E a nossa proposta é justamente que a gente tenha um governo a nível nacional, um governo dos trabalhadores, que rompa com a lógica de dominação sobre o povo, que tem sido os governos tanto PSDB, com Fernando Henrique, como de Lula e Dilma. São governos que efetivamente têm governado para os ricos, o próprio Lula não cansa de alardear que nunca os banqueiros e os empresários ganharam tanto quanto sob os governos do PT. Todo aquele propósito inicial de um governo dos trabalhadores, de governar para o povo, tem sido objetivamente desmentido por parte do próprio PT. Faz 12 anos que eles estão governando o país e o que a gente observa é que eles tem governado pros ricos. A diferença é que nós, do PSTU, agora em aliança com o P-Sol, aqui no Rio Grande do Sul, temos o propósito de fazer esse debate. O debate de que é necessário romper com essas amarras e estabelecidas pelo capital internacional e fazer mudanças profundas, porque é a única maneira de resolver o problema da miséria, da fome, do analfabetismo, da opressão às mulheres, aos negros, aos homossexuais.
JC - A disputa para o Senado, até o momento, está polarizada entre Olívio Dutra (PT) e Lasier Martins (PDT). Como o PSTU entra nesse embate?
Julio Flores – Do mesmo modo que tem essa falsa polarização entre Ana Amélia (PP) e Tarso (PT), tem também no senado uma outra polarização. E veja você que a RBS tem importância nas duas disputas, Ana Amélia foi funcionária da RBS durante anos e o Lasier Martins (PDT) também. A RBS está nesse disputa e o PT está nessa disputa. Então há uma disputa que do meu ponto de vista é uma falsa polarização, porque uns entendem que o PT é esquerda e a RBS, com a Ana Amélia e o Lasier Martins são a direita. E de fato isso não existe, eles têm o mesmo programa.
JC - Há quatro anos, se elegeram os senadores Ana Amélia (PP) e Paulo Paim (PT). O P-Sol, que está coligado com o PSTU, concorria, mas, em dado momento da campanha, para diminuir a ameaça da candidatura de Germano Rigotto (PMDB) a Paim, que tentava a reeleição, o P-Sol optou por se retirar e apoiar o petista. Isso pode acontecer agora?
Julio Flores – Eu acho que, em primeiro lugar, a decisão do P-Sol foi errada na época. Eles tomaram uma decisão de apoiar o Paim. Mas o Paim, apesar de parecer ser um sujeito que defende a aposentadoria, os aposentados, de fato, ele reforça todo esse governo que o PT tem desenvolvido nos anos todos. Então, foi errada a decisão, tanto é que não só nós entendemos isso como vários companheiros da frente que apoiavam o Olívio, apoiavam o PT, votaram na nossa companheira Vera Guasso significativamente naquela ocasião. Dentro do P-Sol, inclusive, e dentro da própria Frente Popular, vários companheiros se posicionaram favoravelmente a nossa candidatura ao Senado. Hoje, não creio que seja igual, mas é parecido, e essa coisa do voto útil. E isso interessa ao próprio PT e à Frente Popular, polarizar com a direita para que o PT possa se favorecer. O projeto de todos eles é resolver o problema dentro do regime atual, passar por dentro do processo de dominação do capital sobre o trabalho a partir das instâncias superiores, a Câmara Federal, o Senado, a presidência da República, o governo do Estado. Então eles não propõem nenhuma mudança substancial.
JC - Como está a relação com o P-Sol?
Julio Flores – Felizmente, nós conseguimos aqui com o (candidato a governador Roberto) Robaina (P-Sol) e comigo, ao Senado, uma coligação completa, estabelecer um programa mínimo de oposição ao governo, porque nós não queremos nem que a direita volte e nem que a Frente Popular siga. Nós queremos ser a terceira, a opção nesses dois campos de polarização que eles estão colocando com Ana Amélia e Tarso, Lasier (Martins, PDT) e Olívio. A verdadeira esquerda, tanto que meu lema para o Senado é: “Esquerda de verdade”.
JC – Não é a sua primeira eleição, não teme, em algum momento, se tornar um personagem folclórico?
Julio Flores – Não, pelo contrário, essa firmeza de ideias que o PSTU tem é uma virtude nossa. O que pode virar folclore é o fato de as pessoas verificarem que o Lula não é mais de esquerda, isso é uma piada. Porque quando o sujeito governou o País, foi eleito, fez alianças com Deus e Diabo. Aí eu pergunto, foi para isso que a gente elegeu o Lula? Não foi. Foi para mudar a vida das pessoas, acabar com a miséria, acabar com a exploração, com a acumulação de capital e a concentração de terras. Então,isso vai virar folclore, porque a origem do PT foi justamente o contrário. Hoje, ele está dizendo que o burguês não tem do que se queixar. Isso é ridículo, isso engendra folclore. Isso é uma piada. O PSTU só está resgatando aquilo que foi o propósito do inicial do PT e da CUT. O nosso propósito é fazer uma revolução social, é mudar a estrutura social do País.
JC – A crítica ao PT não pode se repetir em relação ao PSTU quando este chegar ao poder?
Julio Flores – Não há nenhuma garantia, a única garantia que existe é, primeiro, as nossas convicções. Mas também a nossa história, para teres uma ideia, nós rompemos com o PT em 1992, nós éramos favoráveis a levar às ruas a campanha pelo Fora (Fernando) Collor, e o José Dirceu (PT) foi o cara que operou toda a expulsão da Convergência Socialista (antiga corrente do PT que deu origem ao PSTU) que na época defendia o Fora Collor, e eles eram contra. Não há vacina para isso, a única vacina é a convicção e a relação objetiva que a gente estabelece com todas as organizações. Por exemplo, o principal mecanismo de cooptação existente hoje são os salários dos deputados, senadores e vereadores. E para nós o salário de um deputado nosso, como a nossa companheira Amanda (Grurgel, vereadora em Natal) e do Cleber (Rabeleo, vereador em Belém) são vereadores nossos, mas eles não ganham mais do que ganhavam antes de serem eleitos. Eles ganham o salário de origem. Em contrapartida, mesmo que o deputado ganhe R$ 20 R$ 30 mil, o resto vai para o fundo do partido para apoiar as lutas dos trabalhadores. Então, o mandato não é um privilégio.
JC – Como explicar para a população essa destinação de parte do salário para um fundo partidário?
Julio Flores – Eu acho que é simples, não tem muito drama nisso. Ao invés de o salário enriquecer o parlamentar, vai para o fundo para ajudar a luta dos trabalhadores. Então, isso tem simplicidade, não tem muito o que questionar, porque esse é o nosso propósito. Se tem uma greve, tem uma ocupação, tem uma luta, o PSTU não vai titubear no que vai fazer com esse dinheiro. Isso não vai para enriquecer as pessoas, o partido, ela vai estar em serviço da construção do próprio partido, mas principalmente no fortalecimento da luta do povo.
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