ZH 19 de setembro de 2014 | N° 17927
GUILHERME MAZUI | Brasília
ELEIÇÕES 2014. ESTRATÉGIA DEDO NO OLHO
Tom bélico invade a propaganda eleitoral, com ataques que começam nos planos de governo e chegam a características pessoais dos adversários, ofuscando as propostas
A propaganda de Dilma Rousseff (PT) associa a autonomia do Banco Central ao sumiço da comida da mesa do trabalhador. Alvo preferencial do PT, Marina Silva (PSB) acusa a presidente de ter criado o “bolsa banqueiro”, enquanto Dilma responde que não é sustentada por dono de banco. Aécio Neves (PSDB) diz que Marina é “Dilma com outra roupa”. Com o prenúncio de um segundo turno sem favoritos, a corrida presidencial ganhou tom virulento e menos propositivo, com bate-boca e intimidações de parte a parte.
Os disparos mais contundentes partiram de Dilma, endereçados a Marina. A artilharia do marqueteiro João Santana transformou o plano de governo da ambientalista em ameaça a saúde, educação, casa própria, emprego e renda dos brasileiros. A estratégia foi deflagrada há duas semanas e teve êxito, conforme pesquisas de intenção de voto.
Apesar do sucesso da propaganda petista, o expediente deve ser usado com parcimônia, avalia o cientista político Carlos Eduardo Borenstein, da consultoria Arko Advice. Com experiências em campanhas desde 1994, ele destaca o risco de o bate-boca transformar em mártir o alvo dos ataques mais pesados. E ainda pode reduzir o interesse pela eleição.
– Nos Estados Unidos, quem ataca mais costuma ter a preferência do eleitorado. No Brasil, há uma preferência pela vítima. O artifício do medo funciona por tempo limitado. Chega um momento em que o eleitor quer saber mais do futuro – opina.
AGRESSIVIDADE DERIVA DA POLARIZAÇÃO, DIZ ANALISTA
Troca de farpas e baixarias fazem parte da história. Em 1989, Fernando Collor divulgou o depoimento de Miriam Cordeiro, ex-namorada de Lula, no qual ela acusava o petista de ter oferecido dinheiro para fazer aborto. Surgiram denúncias de que a entrevista havia sido paga, e Lula apareceu na TV ao lado da filha.
Ataques pessoais ou programáticos costumam ser ingredientes de vitória nas urnas. A tentativa de 2002 fracassou e ainda rende piadas com o vídeo em que atriz Regina Duarte aparece “com medo” do ex-metalúrgico. No governo, o PT repetiu o coro para defender Lula em 2006 e, agora, Dilma. Em maio, na propaganda dos “fantasmas do passado”, pessoas hoje empregadas se imaginavam sem trabalho e buscando comida no lixo.
Professor de Ciência Política da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Fernando Lattman- Weltman considera baixo e agressivo o nível do debate em 2014, diferentemente do de 2010, quando Lula desfrutava de aprovação alta, com clima mais favorável à continuidade.
– Os candidatos perdem mais tempo atacando os rivais do que defendendo suas ideias. Deixa a impressão de que a vitória do adversário será o fim do mundo – opina.
A maior influência na campanha das redes sociais, espaço afeito a rumores e posições radicais, reforça o tom bélico, avalia Lattman-Weltman. A agressividade também deriva da intensa polarização das pesquisas, com Marina e Dilma empatadas tecnicamente no segundo turno, o que costuma inflamar militantes, marqueteiros e candidatos.
GUILHERME MAZUI | Brasília
ELEIÇÕES 2014. ESTRATÉGIA DEDO NO OLHO
Tom bélico invade a propaganda eleitoral, com ataques que começam nos planos de governo e chegam a características pessoais dos adversários, ofuscando as propostas
A propaganda de Dilma Rousseff (PT) associa a autonomia do Banco Central ao sumiço da comida da mesa do trabalhador. Alvo preferencial do PT, Marina Silva (PSB) acusa a presidente de ter criado o “bolsa banqueiro”, enquanto Dilma responde que não é sustentada por dono de banco. Aécio Neves (PSDB) diz que Marina é “Dilma com outra roupa”. Com o prenúncio de um segundo turno sem favoritos, a corrida presidencial ganhou tom virulento e menos propositivo, com bate-boca e intimidações de parte a parte.
Os disparos mais contundentes partiram de Dilma, endereçados a Marina. A artilharia do marqueteiro João Santana transformou o plano de governo da ambientalista em ameaça a saúde, educação, casa própria, emprego e renda dos brasileiros. A estratégia foi deflagrada há duas semanas e teve êxito, conforme pesquisas de intenção de voto.
Apesar do sucesso da propaganda petista, o expediente deve ser usado com parcimônia, avalia o cientista político Carlos Eduardo Borenstein, da consultoria Arko Advice. Com experiências em campanhas desde 1994, ele destaca o risco de o bate-boca transformar em mártir o alvo dos ataques mais pesados. E ainda pode reduzir o interesse pela eleição.
– Nos Estados Unidos, quem ataca mais costuma ter a preferência do eleitorado. No Brasil, há uma preferência pela vítima. O artifício do medo funciona por tempo limitado. Chega um momento em que o eleitor quer saber mais do futuro – opina.
AGRESSIVIDADE DERIVA DA POLARIZAÇÃO, DIZ ANALISTA
Troca de farpas e baixarias fazem parte da história. Em 1989, Fernando Collor divulgou o depoimento de Miriam Cordeiro, ex-namorada de Lula, no qual ela acusava o petista de ter oferecido dinheiro para fazer aborto. Surgiram denúncias de que a entrevista havia sido paga, e Lula apareceu na TV ao lado da filha.
Ataques pessoais ou programáticos costumam ser ingredientes de vitória nas urnas. A tentativa de 2002 fracassou e ainda rende piadas com o vídeo em que atriz Regina Duarte aparece “com medo” do ex-metalúrgico. No governo, o PT repetiu o coro para defender Lula em 2006 e, agora, Dilma. Em maio, na propaganda dos “fantasmas do passado”, pessoas hoje empregadas se imaginavam sem trabalho e buscando comida no lixo.
Professor de Ciência Política da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Fernando Lattman- Weltman considera baixo e agressivo o nível do debate em 2014, diferentemente do de 2010, quando Lula desfrutava de aprovação alta, com clima mais favorável à continuidade.
– Os candidatos perdem mais tempo atacando os rivais do que defendendo suas ideias. Deixa a impressão de que a vitória do adversário será o fim do mundo – opina.
A maior influência na campanha das redes sociais, espaço afeito a rumores e posições radicais, reforça o tom bélico, avalia Lattman-Weltman. A agressividade também deriva da intensa polarização das pesquisas, com Marina e Dilma empatadas tecnicamente no segundo turno, o que costuma inflamar militantes, marqueteiros e candidatos.
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