Votem em mim. Prometo que vou resolver tudo - Jorge Mastroberte, é auditor público do TCE/RS, O Globo, 03/10/2010 às 07h13m - Artigo do leitor
No período que antecede o pleito eleitoral, os discursos dos candidatos em disputa para ocuparem os cargos disponíveis nos Poderes Executivo ou no Legislativo da União e dos Estados são repletos de promessas de melhorias nos quesitos saúde, segurança, educação, alimentação, moradia e saneamento básico, na sua ampla maioria voltadas às denominadas classes econômicas menos favorecidas. Crianças no colo,cumprimentose fotos com pessoas de aparência simples não faltam. O motivo é óbvio, pois eles representam a maior fatia dos eleitores que deverão comparecer às urnas no próximo sufrágio universal.
Para esse contingente da população, a única alternativa aparente é acreditar e ter esperança que os candidatos em disputa possam de fato fazer alguma coisa que traga melhorias no dia a dia de sua vida. Até um campinho de futebol na pracinha do bairro pode ajudar quiçá a descobrir, com muita fé em Deus, um talento para os clubes de futebol.
Dentre os principais obstáculos que comprometem a licitude e a efetivação das promessas das campanhas está o fato de muitos candidatos buscarem os cargos públicos visando a concretizar e satisfazer objetivos de natureza particular. O motivo é a falta de recursos e oportunidades na iniciativa privada para dar vazão a suas perspectivas. Nesses casos, é visível a ausência de vocação para vida pública.
A maioria é proveniente de regiões subdesenvolvidas do nosso país, com baixo índice de crescimento econômico e cultural. A carência de recursos econômicos e financeiros sempre foi obstáculo que inibiu a iniciativa para produção de bens e serviços necessários para o desenvolvimento. Os donos das terras, infelizmente, continuam a ser os coronéis que ficam no solar fitando o horizonte. Quem quer trabalhar para arrumar uns trocados tem que contar com a boa vontade e a benção do "senhorio" das terras.
Desde os primeiros anos de vida, muitos indivíduos tiveram que enfrentar desafios para garantir a sobrevivência. Fome, sede e falta de saneamento básico eram e são rotinas diárias. O nosso representante número um é o exemplo clássico do sucesso de um retirante nordestino. São coisas do destino: caso tivesse recebido oportunidades na sua terra natal provavelmente não estaria onde hoje se encontra. Bem cedo, ele teve que encarar as rotinas das fábricas no ABC paulista. Tornou-se referência para massa popular nordestina. Muitos desejam seguir seus passos e logo que desembarcam nas grandes cidades do Sudeste querem saber onde fica o sindicato dos trabalhadores.
Afora isso, também encontramos no meio político indivíduos que estiveram exilados e/ou perseguidos nos tempos da ditadura e que atualmente chegam ao DF para cobrar e exigir indenização pelos serviços prestados no passado. Um cargo público já ajuda a reparar o dano. Tem que se ajeitar de um jeito ou de outro. Por outro lado, empresários e profissionais bem sucedidos colaboram com os gastos das campanhas, obviamente visando alguma benesse no futuro. Não existe almoço grátis, já dizia Roberto Campos. É um tiro no escuro se expor para vida pública e, muitas vezes, não vale a pena se comprometer.
Se Eu for eleito, prometo que após resolver os meus problemas particulares e dos meus parentes, se der tempo e for reeleito sucessivamente, vou pensar em como resolver os problemas de vocês. "Vote em mim" é algo que soaria bem mais sincero. Assim é como vejo o panorama nacional que antecede as eleições. Ressalvadas as exceções, candidatos e seguidores estão em busca, primeiramente, da satisfação pessoal. Nada contra os partido políticos, mas convenhamos, de boa vontade o céu está cheio.
É necessário que cada eleitor deste país pense e reflita no momento de depositar o seu voto nas urnas. O Brasil precisa de cidadãos conscientes dos acontecimentos do passado e do presente nacional. Nunca é demais relembrar que todo o poder emana do povo e em seu benefício deve ser exercido, caso contrário será ilegítimo.
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