segunda-feira, 27 de outubro de 2014

APELO À UNIÃO

 

ZERO HORA 27 de outubro de 2014 | N° 17965


GUILHERME MAZUI RBS BRASÍLIA


NÃO ACREDITO NA DIVISÃO DO PAÍS

APÓS A VITÓRIA APERTADA, Dilma apareceu vestida de branco para o discurso da vitória e disse estar aberta ao diálogo e pronta para fazer as mudanças necessárias


Parecia uma final decidida nos pênaltis. Em silêncio, centenas de petistas aguardavam com os olhos vidrados nos celulares o resultado da corrida presidencial. Às 20h, a ovação: Dilma Rousseff à frente. Bandeiras agitadas, abraços, lágrimas. Porém, não se tratava de vitória matemática, faltavam 6 milhões de votos para apurar. Trinta minutos depois, nova explosão. A primeira mulher a governar o Brasil estava reeleita. Com o novo mandato, o PT completará 16 anos à frente do país.

– Muito obrigada! #Dilmais4­anos – tuitou a presidente.

Foi o primeiro agradecimento de uma vitória suada, após a campanha virulenta, marcada pela queda de um jato com um presidenciável a bordo, a ascensão e queda de Marina Silva e a pancadaria do segundo turno entre Dilma e Aécio Neves (PSDB). A petista venceu com a menor diferença de votos para o segundo lugar desde a redemocratização.

Se em 2010 a petista bateu José Serra por 12 milhões de votos, a diferença para Aécio foi de 3,4 milhões. Reflexo de um país com opinião dividida, inclusive geograficamente: Dilma venceu no Norte e Nordeste, e Aécio, no Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Essa divisão provocou trocas de insultos nas redes sociais.

No hotel Royal Tulip em Brasília, palco do primeiro pronunciamento após a vitória, ministros já indicavam, entre abraços e passinhos do xote Coração Valente, a necessidade de buscar, a partir de hoje, uma conciliação nacional, a fim de assegurar um segundo mandato pacífico, tanto no Congresso quanto nas ruas.

– Um governo vencedor é o que unirá o povo – disse a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira.

A mesma preocupação já havia sido esboçada pelo ex-presidente Lula após votar em um colégio de São Bernardo do Campo (SP). O petista afirmou acreditar que Dilma terá estabilidade para governar mesmo com um cenário de país dividido provocado pelo embate com os tucanos.

– A gente aprendeu neste país, diferentemente de outros países, que quem ganha leva. Quem ganha governa. Temos países que depois do resultado das eleições ficam oito anos brigando – disse, mencionando a eleição de George W. Bush em seu primeiro mandato nos EUA.

DEPOIS DO VOTO, CARINHO DO NETO


Comemorada em Brasília aos gritos de “tetracampeão”, em alusão ao quarto mandato consecutivo do PT no Planalto, a reeleição foi celebrada na noite de um domingo que se iniciou em Porto Alegre para Dilma.

Na Capital, ela fez um pronunciamento no Hotel Plaza São Rafael e votou na Escola Santos Dumont, acompanhada de Tarso Genro. Foram momentos regados a chimarrão e com críticas aos momentos tensos da disputa.

– Foi uma campanha diferente, cheia de momentos de mudança. Não diria que foi inteiramente uma campanha em que prevaleceu o baixo nível. Houve momentos lamentáveis, com o uso de formas de tratamento indevidas, e acredito que isso foi rejeitado pela população – disse Dilma, ainda em Porto Alegre.

Depois de votar, a petista buscou o abrigo da família. Com a tensão da margem apertada verificada nas pesquisas, ela preferiu o carinho da filha Paula e do neto Gabriel. Os três ficaram juntos em Brasília durante a tarde e o início da noite, reclusos no Alvorada.

Ao longo da tarde, a presidente se limitou a telefonemas para os conselheiros mais próximos, a maior parte confiante na vitória indicada nos levantamentos internos do PT. Existia o temor de que a reportagem da revista Veja, que vincula a presidente e Lula aos desvios na Petrobras, causassem danos irreparáveis à votação.

Os atuais ministros do governo, como Aloizio Mercadante, Miguel Rossetto, José Eduardo Cardozo e Guido Mantega, só começaram a chegar ao Alvorada às 19h. Antes, o cabelereiro Celso Kamura preparou a cliente ilustre para o discurso como presidente reeleita.




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